2010/03/14

Foi triste, muito triste... a despedida de um amigo!


À chegada à cidade, deparámo-nos com milhares de pessoas que se aglomeraram na FINOL (Feira Industrial de Nova Lisboa), com a protecção da Cruz Vermelha Internacional.
Nós tivemos a sorte de ir habitar para uma vivenda de uma família do meu futuro cunhado Jorge, que já tinha fugido, porque o ambiente na cidade também já estava arrasador.
De noite não havia um só minuto em que não se escutassem por todos os lados, rajadas de metralhadoras e morteiros 81 que assobiavam por cima de nós e, que ao embaterem no chão provocavam um grande estrondo e toda a cidade estremecia.
Havia por toda a cidade um movimento assustador de veículos carregados de homens com fardas de militares e armas, metralhadoras e lança morteiros apontados para as bermas da estrada e prédios.
Um dia, estava eu sentado no triciclo em frente à casa, no passeio, quando um dos veículos de guerra passou e qual não foi o meu susto quando o vejo, quase ao fundo da rua, fazer inversão de marcha e voltar para o sitio onde me encontrava.
Tremi como ninguém consegue imaginar, pois o veículo parou mesmo ao meu lado.
Um dos ocupantes, bem fardado e de arma em punho, saltou e veio ter comigo.
Ao aproximar-se esticou-me a mão e disse:
-“Menino Zé, tu também está aqui?”
Olhei e apertei-lhe a mão.
Era o Domingos Januário, um dos meus amigos a quem ensinei a ler e escrever.
Perguntei-lhe como é que ele estava lá na UNITA!
Respondeu-me que tinha saído da Cananguena, ainda antes do conflito na Gabéla e ingressou na UNITA como militar, mas como a UNITA abandonou a Gabéla na altura que os brancos saíram para Nova Lisboa ele lá estava.
Dei-lhe um abraço, enquanto as lágrimas me corriam no rosto acenei-lhes com a mão como a dizer-lhe:
“Adeus, até nunca mais!”.
Foi triste! Muito triste!

1 comentário:

  1. A amizade não tem côr. Deixei em Angola muitos
    "Domingos Januário".
    Um abraço
    Maria

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