2010/01/26

Lutando até á victória


Em 1986 comprei o primeiro carro, já com as adaptações adequadas ao meu problema físico e inicio uma grande e prolongada batalha contra os médicos. No dia em que o comprei, nem familia nem amigos sabiam desta minha pretenção. Logo que o recebi, das mãos do ex-dono, pego e vou dar uma volta a toda a aldeia onde vivia na altura (Ega-Condeixa). Ao xegar ao pé das casa das minhas irmãs apitei, elas apareceram penssando que foce o peixeiro mas, qual não foi o espanto ao verem o irmão ao volante de um carro, até levaram as mãos á cabeça, pençavam que eram visões e que não poderia ser o irmão.
O meu primeiro carro “Morris", com o qual fiz 100 mil km sem carta de Condução.
Foi este carro, que já estava adaptado á minha condição física, que me incentivou a lutar por uma carta de condução.
Logo que o comprei fui á minha médica para me passar um atestado a fim de o entregar na escola de condução mas ela achou por bem que eu teria de ser avaliado por uma junta médica. Foi-me então marcado um exame, pela junta médica para 6 mêses depois, mas teria que aparecer com exames psicotécnicos, os quais fui fazer a Lisboa, e em 17 alunos, entre os quais só eu é que era deficiente, passaram somente oito. Em todas as provas que fiz, neste exame, obti o maximo 90% e o minimo 75%, a ultima prova foi numa sala, com uma psicóloga, onde ela me disse: -Sr. José concentresse, esteja á vontade e responda-me, na sua forma de ver, o que axa do passado, do presente e do futuro?

Aí eu falei tudo durante meia hora sem ela me interromper. No fim, ela se levantou, deu-me um abrço e me disse: -gostei imenço do que falou, se em todas as provas que fez aqui lhe correram tão bem como esta, está de parabens. Despediu-se e desejou-me felicidades.
Na data marcada para a presença na junta médica, compareço e depois de ser visto dizem-me que iria receber o resultado em casa.
Passados três meses recebo o resultado com:”reprovado para condutor”.
Não aceitei e exigi uma nova junta médica onde voltei a ser reprovado. Insisti, voltei a pedir nova avaliação, espero mais 6 mêses e mais uma vez voltaram a reprovar-me.
Por não ter mais direito a recorrer a junta médica, escrevi uma carta ao Primeiro Ministro de então (Anibal Cavaco Silva), onde lhe contei tudo o que se estava a passar, dizendo-lhe mesmo que, já tinha feito 100 mil quilómetros em três anos, sem carta de condução e que, durante todo esse tempo já tinha feito 4 campanhas eleitorais com uma aparelhagem móvel no carro e sem carta de condução.
Passadas duas semanas, recebi uma carta de sua Excelência, onde dizia que o meu caso tinha sido entregue à DGV (Direcção Geral de Viação).
Três semanas mais tarde sou convocado pela DGV de Coimbra para prestar provas com esse mesmo veículo.
A DGV aprova-me e passados dois meses a junta médica é obrigada a receber-me. Quando me viram, tiveram o descaramento de me dizer:
- “Então você passou por cima de nós e dirigiu-se ao primeiro-ministro?”
Ao que eu respondi:
- “O que é que queriam? Os senhores queriam tirar-me os poderes e eu não tive outra alternativa.
Responderam-me que me poderia ir embora, que iriam fazer uma avaliação e receberia em casa o resultado. Passados 3 mêses recebo uma carta onde me marcavam uma nova consulta para dois meses depois, no entanto teria que ser portador de um exame neurológico.
Aí é que eu pensei: “Não tenho mais hipóteses! Agora será o fim, vou ser derrotado!” Pois conduzir o carro, eu conduzia-o tão bem como qualquer outro cidadão de bom senso, o pior é que eu não tinha as mesmas forças que outras pessoas e provavelmente seria um exame que me reprovaria à partida. Passei a noite sem dormir, só pensava no sonho que tinha ido por água abaixo. Foi então que me lembrei de um enfermeiro, o senhor Pita, que tinha andado comigo na campanha eleitoral. Telefonei-lhe e falei-lhe da minha precisão de um neurologista, e foi então que ele me respondeu que trabalhava no consultório com uma Neurologista no Hospital da Universidade de Coimbra.
Lá fui, fiz o exame que me deu oitenta por cento de aptidão para conduzir o veículo que já possuía.
No dia da consulta na junta médica, os médicos ficaram a olhar uns para os outros. Resolveram dar-me a aprovação mas não deixaram de me chatear mais um pouco, mandando-me esticar os braços, juntar as mãos com as palmas para baixo, colocaram sobre elas uma folha de papel respondem-me:
- Veja, porque é que nós rejeitávamos o seu pedido, olhe só para a folha, como treme, não é só o que você pode ou não pode fazer, nós ao olharmos para si vemos o que você é fisicamente!?.
Eu revoltei-me e disse-lhes: -Vocês devem ser uma cambada de doidos, não vêm que são vocês quem me põem assim nervoso? E depois, não escolhi ser deficiente e não são vocês nem ninguém que avalia as minhas capacidades .
Mandaram-me acalmar e sair para a sala de espera. Passados uns minutos apareceu a secretária que me mandou ir comprar uns selos para colocar no processo.
Os médicos saem da sala de consultas com cara de derrotados e houve um deles que mancava de uma perna que me deu os parabéns e me disse:
-Você é um homem duro, por mim teria resolvido isto logo no primeiro dia, mas não sou só eu e nem sou o chefe da junta médica!
Este processo durou quatro anos, fiz 100 mil quilómetros desde Viseu a Lisboa e da Figueira da Foz a Vila Velha do Ródão, sem um acidente e fui mandado parar 4 vezes pela Brigada de Trânsito mas depois de me ouvirem fecharam os olhos e mandaram-me embora.
Porém, um dia a GNR de Soure, que soube desde sempre que eu andava a conduzir sem carta de condução, abordou-me no centro da vila, pediu-me os documentos e no dia seguinte sou levado a tribunal. Fui penalizado em 10 contos mais 10 dias de cadeia ou 400 escudos por cada dia, paguei 14 contos e saí.
Finalmente chegou o momento de ir a exame de código, no qual obtive bom resultado, e três semanas mais tarde fui ao de condução. Lá venho eu de Coimbra, todo feliz com a carta no bolso e lágrimas de alegria nos olhos.
Nesse mesmo dia fiquei muito sensibilizado com a atitude do meu tio Manuel de Oliveira, irmão da minha mãe, que não foi ao serviço para ir assistir à minha prova de exame de condução. Quando parei o carro ele e o meu pai aproximaram-se e, ambos, desataram a chorar ao ouvirem o engenheiro dizer para mim:
-Pronto, você já pode ir a conduzir para casa, parabéns! - E apertou-me a mão.
Nesse momento, não me consegui controlar e as lágrimas saltaram-me dos olhos pela alegria e pela luta que travei até ser o victorioso.

4 comentários:

  1. Olá Lutador mor!!

    Puxa foi dificil esse parto para parir uma carta de condução, não entregaste nunca os pontos, foste sempre à luta, és um exemplo a seguir!!

    Coragem não te falta e determinação muito menos, adorei ler este comentário bem como a introdução do teu blog, dou-te os meus parabéns és um CAMPEÃO!!

    Beijinhos e vou aparecendo sempre que for possível manda-me as novidades que aqui vais colocando!!

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  2. grande ze, antes vergar que partir.
    Continua mas com calma.

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  3. Olá amigo Zé. Vou dizer-lhe uma coisa, o amigo é um grande lutador e dou-lhe os meus sinceros parabéns.
    Li com muita atenção esta sua luta e realmente o amigo é um Campeão. O que mais me impressionou foi ver a maldade que existe no ser humano, que se comportam como verdadeiros cobardes.
    Mas isso não acontece só com deficientes.
    repare nesta quadra do poeta Aleixo:

    Os que vivem na Grandeza
    Dizem, vendo alguém subir.
    - Há que manter a pobreza,
    P'ra a Grandeza não cair.

    Há tantos burros mandando
    Em homens de inteligência,
    Que ás vezes fico pensando
    Que a burrice é uma ciência!

    Ou seja, somos meros peões num tabuleiro de xadrez.
    Continue assim lutador.
    Um abraço.

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  4. Belo exemplo de determinação, perseverança e fé. Você acreditou no seu sonho, e em meio às adversidades você venceu! Estou muito feliz que tenha alcançado os seus objetivos. Guardarei esta história em minha memória! ;)

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